Refletindo pela temática do sistema de saúde pública
brasileira, sendo relatada que a transexualidade pode se caracterizar como algo
de grande angústia, pois não há um pertencimento do sexo biológico da pessoa em
si e também por uma precariedade da sociedade que tem uma dificuldade na
aceitação desta condição que foge da parte normativa culturalmente vigente (ARÁN,
ZADHAFT e MURTA 2008). Rodrigues (2005) ainda confirma essa fala ao dizer que o
conceito de gênero é algo construído culturalmente que se torna distinto do
sexo adquirido, tratando de uma desnaturalização imposta pelo qual a sociedade
coloca as pessoas, ou seja, trazendo como instância o sexo biológico como fator
definitivo. Podendo dar assim abertura para uma dificuldade maior para os
direitos das pessoas da comunidade LGBTQIs.
As pessoas dentro da comunidade LGBTTQIs lutam
para ter seus direitos reconhecidos e conseguir igualdade de tratamento em
diversas questões, como saúde, trabalho e vivência social. Sendo esses locais
comuns para toda a população, como uma escola na qual deveria ser considerada a
questão de debates sobre educação sexual, pois algo assim poderia evitar
futuras discriminações e exclusões na vida dessas pessoas (JUNIOR 2018). Junior
(2018) ainda fala do enfrentamento desta questão de preconceito, ressaltando o
período entre 1988 a 2002 onde houve um número maior de implementação de
politicas públicas na área educacional, mas que também houve um retrocesso
sobre a discussão sobre gênero e sexualidade, apontando novamente para que se
fizessem mais debates sobre essas temáticas buscando como ferramenta
fundamental a garantia dos direitos humanos dos integrantes LGBTTQIs.
Outro ponto a ser abordado é relacionado à saúde
pública desta população que ainda sofre com preconceitos e estigmatizações de
profissionais de saúde, trazendo à tona a possibilidade de se pensar numa
possibilidade de reflexões sobre esta temática já que não é tão abordada (BEZERRA,
MORENO, PRADO e SANTOS). E mesmo assim pode se ver que dentre os anos de 2000 a
2016 entraram em vigor diversos casos em direitos das pessoas da comunidade
LGBT perante a ONU, como a vida familiar e a não discriminação. Sendo abordada
a ideia das pessoas serem livres e iguais, ou seja, terem os mesmos direitos de
todas as outras pessoas da comunidade num geral (NAGAMINE 2019). Dito isso,
Pereira (2019) ainda afirma os direitos fundamentais da população LGBT
realçando os direitos de liberdade de expressão, suas conquistas pela
independência corporal ao longo dos anos, direitos matrimoniais e direitos
civis entrando em constantes embates contra os meios e pessoas que propagam a
discriminação para com eles de maneira geral. Por conta dos setores que almejam
a segregação e a discriminação destas pessoas se faz jus o desenvolvimento de
politicas públicas contra esses atos e indo a favor para a democratização dos
direitos humanos para toda a população LGBT.
Sendo assim a temática acerca de transfobia não
é algo novo de se ser abordado, pois dentro da sociedade contemporânea há uma
discriminação para com essa população, sendo que a prática de violência contra
principalmente os transexuais homens é maior as transexuais mulheres e
travestis. As pessoas transexuais e travestis sofrem de uma segregação por uma
parcela da sociedade, ou seja, visam a eliminação dessa população, seja por
meios de violência física ou verbal (RIBEIRO e SILVEIRA 2020). Como relatado de
acordo com o boletim da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (2020)
nos primeiros 10 meses do ano houve um aumento de mais de 20% nos assassinatos
em comparação com o ano anterior e se comparando com os dados de pessoas transexuais
no período de 1 de Janeiro e 31 de Outubro do ano de 2020 o aumento foi de mais
de 45% no número de assassinatos. Sendo o Brasil o pais em que este aumento vem
se dando gradualmente, não havendo indícios de baixa neste quesito, há também
um agravamento das desigualdades para com esta população que ocorre com maior
intensidade por conta da pandemia da covid-19. Outro fator que se destaca e que
pode servir de apontamento para este aumento das agressões contra pessoas
transexuais é de que grande parte dos setores da sociedade brasileira são
frequentemente influenciados por ideologias familiaristas e naturalistas de
princípio religioso.
Muitas das pessoas que
concordam com estes setores vêem a questão da transexualidade como uma doença,
um crime ou como um pecado, citado em aspectos religiosos, sendo assim a
questão da segregação é voltada para este tema que novamente é explicada como um
meio de eliminar esta parte da comunidade, mesmo que no fundamento da política
brasileira é a favor da dignidade humana independente de quem forem (ABÍLIO
2016). Com isso, um método que poderia ser utilizado para que houvesse um
número menor dessa incidência de discriminação e segregação para com as pessoas
desta comunidade seria realizar uma educação de gênero e diversidade,
principalmente em escolas, pois com debates sobre a temática e em quais pontos
focar para que assim a discriminação e segregação deixem de ser um problema
(SILVA 2013).
Destacando a importância dessa discussão nas escolas,
desatrelando a sexualidade como algo apenas biológico, tendo que destacar um
embate para com uma transformação das ideologias dos setores brasileiros que
pregam contra as pessoas transexuais e travestis, sendo em resumo, abordar
dentro da escola uma educação que humanize as pessoas, tendo também enfoque em
questões como sexualidade e gênero (SILVA 2019). Com isso, dentro do mercado de
trabalho para pessoas transexuais e travestis há problemas como preconceito
transfobia em sua grande parte, o uso dos banheiros, as vestimentas, a
escolaridade e as linguagens verbais e corporais destas pessoas que acabam
passando por algum tipo de estigma por isso, dentro disso algumas entidades
adotaram estratégias para ir contra essas dificuldades são a realização de
eventos, palestras, peças, compartilhamento de vagas em redes sociais para
pessoas transexuais e travestis, caminhadas e capacitação para esse público
(ALMEIDA e VASCONCELLOS 2018).
Almeida e Vasconcellos (2018) ainda reportam em
seu trabalho que há uma necessidade de que o Estado proteja e as empresas atuem
em prol das pessoas transexuais e travestis, garantindo seus direitos de
trabalho sem que haja discriminação neste ambiente. Constando que dentro das
políticas públicas voltadas para essa população é para a prevenção de doença e
o combate à exploração sexual e não para inclusão no mercado de trabalho. Visto
que as pessoas dentro dessa comunidade acabam ingressando em trabalhos que
envolvem atividades sexuais e dentro destas atividades podem acabar
desenvolvendo algum tipo de vício prejudicial à saúde, como o consumo excessivo
de álcool e outras drogas que pode vir a se tornar uma síndrome de dependência
química. Um meio de dar um suporte para estas pessoas a sair desta situação de
vulnerabilidade, que é aumentada por decorrência do uso de álcool e outras
drogas, é a regulamentação desta prática profissional já reconhecida pelo
Código Brasileiro de Ocupações (ROCHA, PEREIRA e DIAS 2013). Com isso, há
alternativas de empresas que fazem a contratação de pessoas travestis e
transexuais, como de exemplo uma alternava para as pessoas da comunidade
transexual que procuram empregos são sites como o “transempregos.org” que
funciona como meio de divulgação de empresas e cursos voltados para esta
comunidade, com oportunidades reais e cursos gratuitos. A empresa Delikata é
uma confeitaria pernambucana com lojas em Recife e Olinda, a empresa realiza
contratações de pessoas trans. A Santo Caos que é uma empresa de consultoria de
engajamento que fica em Pinheiros em São Paulo.
A loja de departamentos C&A
oferece de maneira continuada vagas de emprego para pessoas trans. Com sede em
Brasília o Escritório das Nações Unidas de Serviços para Projetos (Unops)
também faz seleções para empregar pessoas trans. O grupo farmacêutico sediado
em São Paulo Novartis faz contratações para pessoas transexuais em todos os
seus setores. Valendo lembrar que na carreira esportiva, há divisões quanto
seus lugares no esporte, Silva (2019) explica que a divisão deve ser feita com
base em gênero e não em sexo biológico, pois se feita com a segunda opção ela
poderá inviabilizar a mulher transexual de conseguir seu devido reconhecimento.
A participação é válida se dentro dos requisitos exigidos pelo Comitê Olímpico
Internacional. A metodologia utilizada consiste em uma análise qualitativa bibliográfica
e de maneira explícita, sendo feita da maneira mais clara, compreensível e
operacional possível, dada a complexidade do vigente assunto tratado, sendo
assim é determinante a resolução da problemática, limitando sua esfera e
apresentando suas principais características a respeito do tema (LAKATOS e
MARCONI 2007). Podendo-se concluir que as pessoas transexuais e travestis ainda
sofrem com um grande processo de estigmatização por não esconderem quem
realmente são e não tendo abertura para que consigam espaço para realizar seus
objetivos sofrendo assim danos em suas vidas pessoais e sociais. As pessoas da
comunidade LGBTQI sempre tiveram que lutar por direitos de terem a chance de
realizar seus trabalhos e viver de forma honesta como qualquer outro membro da
sociedade, mas sendo impedidos por conta de uma estigmatização em decorrência de
seu gênero ou sexualidade. Outro fator importante a ser ressaltado na obra é o
de mostrar que mesmo algumas empresas façam contratações de pessoas transexuais
e travestis ainda há uma escassez nesse setor trabalhista, fazendo crer que
ainda há um forte indicio de possível preconceito dentro de certos setores da
sociedade contemporânea, fazendo acreditar que ainda é preciso que se hajam
muitos outros embates para se conseguir uma maior abrangência de vagas e
principalmente acabar com a ideia de segregação e discriminação que estas
pessoas sofrem. Concluindo, pretende-se que este estudo possa vir a incentivar
novas pesquisas que ampliem o conhecimento sobre esta temática sobre a
população LGBTQI que precisa ser mais vista e mais estudada por todos os
setores acadêmicos.
Palavras-chave: Emprego; Transexualidade; Discriminação;
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